Travessia de caiaque da Represa da Serra do Facão - GO
Viajando de carro de Brasília para Belo Horizonte, pela BR - 040, cruza-se a divisa de Goiás e Minas Gerais pelo rio São Marcos. Antigamente, quando passava por esta ponte, eu avistava o rio de águas azul-turquesa e mata ciliar exuberante e imaginava fazer uma viagem de caiaque por aquele belo curso sinuoso.

Remamos o dia todo sob um um forte calor, apesar de estarmos no inverno!
Paramos por volta de 17h30min, ao encontrarmos um bom local para acampar (bom local= terreno plano e seco).
Montamos as barracas e quando preparávamos o jantar (macarrão com atum), um pequeno barco se aproximou e nos indagou o que fazíamos ali. Expliquei que estávamos descendo o rio São Marcos até a represa. No barco, havia um grupo de japoneses que pescava pela região. Após alguns minutos de conversa, o grupo se despediu deixando conosco três suculentos peixes para serem assados em nossa fogueira. Agradável surpresa!
Antes de dormir, enquanto admirava o impressionante céu estrelado, vi a estrela cadente mais duradoura que já testemunhei. Enquanto o meteoro deslizava pelo céu, ainda tive tempo de alertar o Luis para que olhasse. Minutos depois, a lua nasceu laranja, refletindo no espelho d'água sua cor dourada. Após o deleite, dormi como uma criança.
Durante o segundo dia, o Luis avistou uma cobra nadando e eu presenciei uma ariranha entocada em uma das árvores secas da margem, além das inúmeras capivaras. Fizemos duas paradas para lanchar.
Como havíamos remado bastante no segundo dia, restava-nos apenas 17 quilômetros para o destino final. Remamos "fofocando" tranquilos até a barragem, local onde eu havia combinado com meu pai para nos encontrar às 16h00min.
Aproximando da barragem, nos deparamos com algumas placas de advertência e boias delimitadoras, o que significava que não poderíamos aportar no local planejado para o resgate. Sem ter como alterar o ponto de encontro com nosso resgate, apelamos para o velho "João sem braço" e seguimos remando, meio que escondidos colados à uma das margens, até o local onde eu havia préestabelecido. Ocorre que o ponto se encontrava dentro da área de segurança da usina hidrelétrica.
Tiramos os caiaques da água e, enquanto o Luis se encarregou de tomar conta dos barcos, eu fiquei com a "responsa" de negociar o acesso de nosso resgate à usina. Antes mesmo de chegar na pista da usina, um carro veio ao meu encontro. O segurança logo perguntou o que eu fazia ali e que minha presença não era permitida. Expliquei que havíamos terminado a travessia da represa e que precisávamos encontrar com nosso resgate. O segurança, utilizando-se de seu "micro poder", foi enfático:
- Vocês devem sair daqui já. E terão que carregar os caiaques.
Sem saber como convencê-lo de que não tínhamos como carregar os barcos por quase dois quilômetros até o portão de entrada, acabei inventando uma "pequena" história e blefei:
- Olha senhor, entendo que estamos errados, mas não temos como retornar para a água. Nossa comida acabou, não temos como remar para outro local e encontrar o resgate, pois não tenho como avisá-lo, mas se você puder me emprestar um telefone, posso entrar em contato com o "Sr. Godofredo Ribas", diretor de assuntos expedicionários em locais não permitidos, e pedir a ele uma autorização para meu resgate me pegar aqui dentro.
Meio sem jeito, o segurança coçou a garganta e mudou o tom de voz:
- Bem, vou facilitar as coisa para vocês. Não vai ser preciso fazer a ligação. Mas fiquem sabendo que "não pode".
Às 15h30min, o Seu Dagô se aproximava do portão da usina. Amarramos os caiaques no carro, e, já em direção a Brasília, dávamos risadas do ocorrido no final de nossa remada.
"Mas você é o que faz, não o que diz".
Yvon Chouinard
1º dia - 23/07/2016
Distância: 25 km
Tempo: 3h43'
Média: 6,8 km/h
2º dia - 24/07/2016
Distância: 43 km
Tempo: 6h20'
Média: 6,9 km/h
3º dia - 25/07/2016
Distância: 17 km
Tempo: 2h27'
Média: 6,9 km/h