Viagem de bike pela Europa - parte final

"A simplicidade é o último grau de sofisticação"
Leonardo da Vinci



Continuação...
31/05/2014 Fraga - Zaragoza
Distância: 115 km
Média: 22,5 km/h
Asc: 1008 m
Tempo: 5h06’
Acomodação/preço: Albergue – 16 Euros
Run: 10 km

Deixei Fraga às 10h40min, pois tive que trocar uma câmara de ar. Logo no início, peguei uma subida bem íngreme. Lá em cima, cheguei em um platô com uma visão de 360° da região árida e desértica em que eu me encontrava. Apesar de plana, a estrada seguia sempre na direção oposta à que o vento soprava. Sofrendo a cada quilômetro “conquistado”, cheguei à entrada de Zaragoza, onde abri o mapa e percebi que poderia continuar mais 20 km até um Pueblo e dormir em um local onde os preços seriam um pouco mais baixos.

Antes de pegar a estrada em direção a Madrid, resolvi me informar se a estrada que eu seguiria era a correta. Um transeunte me orientou a cruzar por dentro da cidade, o que, em verdade, eu não queria, pois achei que atrasaria a viagem um pouco. Ainda assim, segui por dentro da cidade, contrariado!


Chegando mais perto do centro, surpreendi-me com as altas e belas torres da “Catedral Del Pilar”. Tirei algumas fotos, mas ainda achava que deveria continuar a viagem. Pedi uma informação a um ciclista que passava e ele, muito solícito, guiou-me na direção que eu deveria seguir. Durante o percurso dentro da cidade, ele me perguntou para onde eu iria e, diante de minhas explicações, ele me sugeriu a permanecer na cidade, pois não haveria nada o que fazer no Pueblo em que eu planejava dormir. Desta forma, o novo amigo indicou-me um albergue no centro da cidade.
 

De longe, foi o melhor albergue em que me hospedei durante toda a viagem. Ambiente agradável, bom preço, pessoas bacanas e “sessions” de jazz todas as noites!
 
Após me instalar, saí para conhecer um pouco da cidade e me deparei com um dos mais belos lugares que conheci. Uma arquitetura antiga preservadíssima junto ao moderno. Zaragoza é repleta de ciclovias, trilhas para correr (ao longo do rio Ebre) e caiaques zingrando pelo rio. Música boa para todo canto. Foi o local perfeito para descansar uma dia a mais.
E pensar que eu iria passar direto! Tem coisas que tem que acontecer mesmo.

01/06/2014  Zaragoza
Off
Run: 15 km






02/06/2014  Zaragoza – Arcos de Jálon
Distância: 154 km
Média: 24,8 km/h
Asc: 2185 m
Tempo: 6h13’
Acomodação/preço: Pensão – 10 Euros


Saí bem tarde, às 11h20min, já esperando o vento contra. E, realmente, nos primeiros 45 quilômetros ele estava lá!
Após 2 horas de pedal, iniciou-se uma série de subidas e descidas que acabaram proporcionando um rendimento melhor que no plano com vento contra. Desde Zaragoza o pneu traseiro (o 2º na viagem) vinha mostrando que não duraria muito tempo. Criou-se um calo no pneu e, com isso, uma trepidação constante me acompanhou durante o dia todo.
Pensava até quando o danado aguentaria, pois no local do problema (sobressalto no pneu) a borracha foi gasta em excesso, fazendo com que a costura ficasse à mostra. Não deu outra. Ao final de uma longa subida, em meio ao nada, o pneu estourou...


Por sorte, durante a fase de planejamento da viagem, havia colocado um pedaço de pneu velho em meu kit da bike, pensando que tal coisa pudesse ocorrer. Após colocar o manchão no buraco aberto, enchi o pneu e continuei a viagem até a cidade seguinte. O manchão funcionou bem, mas o local onde havia feito a adaptação no pneu tocava o solo com mais pressão e, por conta disso, vinha gastando depressa. Ao chegar a Arcos de Jalón, não encontrei nenhuma loja de bike. Diante disso, indicaram-me uma “ferreteria”, uma espécie de armazém tem de tudo. Só não tinha pneu para minha bike!
 

Na pensão onde dormi, acabei reforçando o manchão que havia feito anteriormente a fim de que o pneu aguentasse chegar até Guadalajara (a 100 km de Arcos de Jálon), onde eu poderia encontrar uma loja de bicicletas. 
 
03/06/2014  Arcos de Jálon - Madrid
Distância: 169 km
Média: 25,2 km/h
Asc: 1466 m
Tempo: 6h40’
Acomodação/preço: Casa da Margareth (amiga de minha mãe) – 0 Euros!



O manchão aguentou firme até Guadalajara, onde eu parei para trocar o pneu. Aproveitei para tentar fazer um contato com minha mãe e pegar o telefone da Margareth (amiga de minha mãe que mora em Madrid). Por sorte, consegui o contato e confirmei minha estada em Madrid na “faixa”, fato que me motivou a esticar até Madrid no mesmo dia.



04/06/2014  Madrid
Off
Run: 40’

05/06/2014  Madrid
Off
Run: 15 km
Dia do meu aniversário. 40 anos!!

06/06/2014  Madrid
Off
Run: 40’
 
07/06/2014  Madrid – Torralba de Oropesa
Distância: 144 km
Média: 24 km/h
Asc: 1046 m
Tempo: 5h59’
Acomodação/preço: Hotel – 30 Euros

 Dia difícil. Pneu furado com 15km. Saída de Madri meio tensa, muitos carros. Paisagem sem graça e vento contra constante. Bem cansado. Shit... 

08/06/2014 Torralba de Oropesa - Trujillo
Distância: 112 km
Média: 23,6 km/h
Asc: 1496 m
Tempo: 4h43’
Acomodação/preço: Hotel – 20 Euros

Outro dia difícil. Vento contra, calor e paisagem monótona com retas intermináveis. Estava me sentindo cada vez mais fraco. Não sei se por conta de não ter comido bem durante a viagem (emagreci muito), ou se foi por conta do acúmulo da quilometragem ou se era saco cheio mesmo!
 

09/06/2014  Trujillo – Elvos (Portugal!)
Distância: 156 km
Média: 24,2 km/h
Asc: 1336 m
Tempo: 6h27’
Acomodação/preço: Pensão – 20 Euros


E mais um dia de vento contra... E eu achando que ele iria mudar de direção!
Cruzei a última fronteira da viagem. Entrei finalmente em Portugal, em Elvas (Patrimônio Histórico da Humanidade). Deste ponto até o objetivo seriam no máximo mais 2 dias. Ahhh, o Atlântico!



10/06/2014  Elvos – Paiol Novo (Meu destino!!!)
Distância: 177 km
Média: 25,9 km/h
Asc: 1603 m
Tempo: 6h50’
Acomodação/preço: Casa de meu amigo Marcelo Cazassa – 0 Euros


 


Sem muitas novidades no percurso, não me aguentava de ansiedade. Era o último dia da viagem. Fazia a contagem regressiva dos quilômetros. Às 18 horas, tocava a campainha da casa de meu amigo Marcelo, em Pinhal Novo.

Simples assim, terminava minha jornada através da Europa. 3500 quilômetros, 33 dias, 4 países, incontáveis lembranças. Daquele momento em diante, tinha a certeza de que nunca mais seria a mesma pessoa. Novos conceitos, posicionamentos e, sobretudo, novas visões.

Durante 33 dias, minha rotina se baseava em acordar, comer, pedalar, comer, pedalar, comer e dormir. Ao final de todos os dias, adotava a tática: “fuçar, chorar e acampar”, ou seja, chegava na cidade e “fuçava” tentando achar um hotel em conta. Se meu “bugdet” era imcompatível, partia para a “choradeira”, pechinchando os preços das acomodações. Caso ainda assim não fosse feliz, partia para o “acampar”, o que acabou acontecendo diversas vezes!

Hoje me sinto mais íntegro, confiante e feliz. Confirmei que o mundo é acessível a todos; a todos aqueles que querem desvendá-lo e absorver suas informações.
 
A porta do mundo está aberta. Puxe o trinco!

Forte abraço,
Manza




Agradecimentos:

Traveler.com.br
D´stak academia
Bike Brothers
Kailash Team Neptunia
Família e amigos do Manza

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