Volta do Baú - E viva o Seu Zico...
Ecomotion Volta do Baú
Distância: 30 km
Local: São Bento do Sapucaí/SP
Ascenção acumulada: 2000 metros
Data: 05/10/2013
Apenas três dias antes da prova, pude confirmar minha participação. Isso porque sabia da correria que seria viajar, correr, viajar e retornar para trabalhar no dia seguinte. Mas não resisti quando vi o mapa do percurso e a assustadora altimetria da prova.
Para chegar a São Bento, tive que pegar um voo para São Paulo, um ônibus de Sampa para São José dos Campos e mais outro de lá até São Bento. Cansado e de saco cheio de viajar, não imaginava o que estava por presenciar no último trecho. A viagem de São José dos Campos até São Bento dura aproximadamente duas horas. Desde a saída, percebi que algumas pessoas se conheciam dentro do ônibus. Eram aproximadamente 19:00hs quando um senhor, com mais ou menos 85 anos de idade, solicitou que o motorista parasse para que ele descesse na entrada de sua propriedade, próxima da rodovia. O tal velho tinha estatura mediana, um aspecto descuidado, barba por fazer, usava uma par de botas sete léguas e portava um típico chapel de caipira. Após o desembarque do velho, seguíamos viagem rumo a nosso destino, quando ouvi uma voz grossa e alta com um sotaque caipira puxadíssimo perguntar:
- Ôoh Valdirrrr, essi qui apiô era o Seu Zico?
Na sequência, o motorista do ônibus respondeu:
- É ele mesmo.
- Quê qui ele tava fazendo lá em São José? Retrucou o homem, como se estivessem conversando em uma mesa de bar.
- Ah, ele vai lá toda semana vender uns cachos de banana na feira.
- Eu ouvi dizê qui ele nunca casô na vida e nem tevi fiii. Se intrometeu uma senhora com uma voz de taquara rachada e sotaque mais caipira ainda.
- I sê credita qui ele nem pricisa trabaiá, ouvi dizê qui ele herdô tudim dos pai e inda ganha posentaduria. Outra senhora do lado oposto ao homem completou.
A partir de então, dentro daquele ônibus, presenciei um dos mais curiosos e engraçados casos de fofoca de interior.
- Ôooh Valdir, us minino do bar do nêgo falaru qui o Seu Zico é tão fidido qui nem o cachorro dele guenta. Mandou mais uma o maldoso homem.
- A mão dele é tão grossa qui ele nem senti uma aguia. Falou e sorriu uma das senhoras.
Quase chegando em São Bento, o homem gritou para o motorista:
- Ôh Valdirr, pára antis du trevu um cadim preu descê.
- Pois não Seu Tonico. Concordou o motorista.
Enquanto o ônibus parava, aproveitei para conferir como era a fisionomia do engraçado e conversador caipira. A semelhança com o Seu Zico era tamanha que eu poderia dizer que eram irmãos.
Ao descer do ônibus, Seu tonico virou para o motorista e disse:
- Ôoh Valdir, si ocê quisé toma um café cum farinha, é só apiá.
Não me contendo de tanto rir, escutei lá do fundo do ônibus:
- Uai, Seu Tunicu, e o restu du ônsbu? cê num vai convidá?
- Podi pará o ônsbu li nu canto, Ôhh Valdirrr, qui lá im casa teim é uma muringa grandi pra todu mundu!
Após recusar o convite por motivos óbvios, o motorista se despediu de Seu Tonico, assim como a metade do ônibus, que curiosamente já se conheciam e dividiam a mesma viagem há anos. Chegando em São Bento, não resisti e tentei fazer parte, mesmo que momentaneamente, daquela família me despedindo do motorista:
- Obrigado e até logo Valdir!
- Meu nome não é Valdir não. É Valdecir. O Seu Tonico é o único que insiste em me chamar de Valdir! Finalizou o motorista.
Casos assim me fazem esquecer dos problemas da vida, da velocidade do tempo e da dificuldade que colocamos em tudo.
À propósito, em relação à prova, largamos às 08:35hs com um tempo muito agradável para correr. Nublado e não muito frio. Como sabia que haveria boas e longas subidas, segurei o ritmo para não me arrepender depois.
Já no quilômetro 6, no início de uma das mais longas subidas, as colocações já se encontravam na mesma sequência que o resultado final. Subimos por uma das cristas do vale da Pedra do Baú. Infelizmente, com o tempo um pouco fechado, não pude avistar de longe o complexo da Pedra do Baú.
Após descermos para o fundo do vale e atravessarmos para o outro lado, local em que estávamos com 16 quilômetros de prova, pegamos a segunda e mais difícil subida do dia. Era quase impossível correr nesses trechos. Desta forma, enquanto subia, dava grandes passadas apoiando os joelhos com as mãos a fim de dividir um pouco a força das pernas. ao final desta longa subida, veio a parte mais técnica da prova.
Uma trilha na mata fechada repleta de trepa-pedras e raízes escorregadias. Neste ponto, acabei me perdendo em meio à mata fechada. Após alguns minutos batendo cabeça, encontrei a trilha e vi que o primeiro lugar também havia se perdido no mesmo ponto. Desse local, faltavam, aproximadamente, 5 quilômetros para a chegada, trecho que fiz no encalço de Celio.
Contudo, acho que por ser local de São Bento, Celio levou uma pequena vantagem! Terminei com as pernas bem doloridas por conta do pesado sobe-e-desce. No dia seguinte, acordei cedo para pegar novamente o ônibus para São José dos Campos e delá para o aeroporto de São Paulo.
Infelizmente, desta vez, não tive a felicidade de encontrar o Seu Tonico, tampouco o Seu Zico durante minha volta, mas admirava contente a beleza da região.
Abraço.
Manza.
Resultados:
1 Celio Augusto da Rosa 03:19:48 São Bento do Sapucaí/SP
2 Alexandre Manzan 03:22: 46 Brasília/DF
3 Hamilton Rodolfo Miragaia 03:44:51 São Bento do Sapucaí/SP
4 Dalto Dos Santos Rodrigues 04:00:32
5 Pablo Simonetti 04:13:54
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Crédito das fotos: Wladimir Togumi