sexta-feira, 8 de março de 2013

Expedição Antartica - parte II

  
Aproveitei a maré baixa para correr pela praia, livre sob bilhões de estrelas. Mas o que significa ser livre? “Não estar ligado a nada”, alguém havia escrito: “mas estar em harmonia com tudo. Então sim, se é verdadeiramente livre”. Sim, posso assegurar-lhes que pelo menos ali, aquele era mesmo eu. Meu era o universo, minha era a Terra sem jamais tê-la comprado. Era dono do mundo, sem subjugar ninguém. E nunca me pareceram tão verdadeiras as palavras do grande cacique índio, chefe Seattle, pronunciadas em 1855 diante do presidente dos Estados Unidos:
“Grande chefe dos brancos, como pode a Terra ser comprada ou vendida, assim como as montanhas e as águas? Se nem nós possuímos o frescor do ar, nem a terra, nem o cintilar das torrentes, como podeis vós comprá-la?... Os rios são nossos irmãos porque matam a nossa sede. Eles transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. As minhas palavras são como as estrelas e jamais desaparecerão.”
Trecho do livro: Tekenika de Giuliano Giongo
 
 
 
 
Aportamos em Dorian Cove às 21:30hs do dia 07 de janeiro. Ficamos ancorados de frente para o Neumayer channel, por onde seguiríamos viagem dois dias mais tarde. Em Dorian Cove, tivemos a oportunidade de testar os snowshoes, equipamento parecido com uma raquete de tênis que permite que uma pessoa possa até correr sobre a neve fofa. Minha “primeira vez” com os snowshoes foi cansativa; não sei se por estar destreinado, ou porque é difícil mesmo, mas finalizei o dia com as pernas fadigadas.


 
No dia 08 de janeiro, fizemos uma ascensão ao pico noroeste da ilha em que se encontra Dorian Cove. Nesta ascensão, fomos eu, João, Luis e Gabriel, testando, desta forma, nossa dinâmica de cordada, ou seja, a distância entre um e outro e a utilização dos crampons e piolets (equipamentos para cravar os pés e as mãos na neve).
 

Quase no cume (550 metros), fomos impedidos de prosseguir devido a uma enorme greta que nos cruzava o caminho. Apesar de termos voltado dali, descemos felizes com a espetacular vista e a experiência de mais uma pequena montanha na Antártica.
Dando sequência à viagem rumo ao monte Rio Branco, onde seria nossa posição mais meridional na península antártica, zarpamos para a ilha Hoovgard, onde ficaríamos dois dias. Para tanto, no dia 09 de janeiro, saímos pelo canal Neumayer na direção sudoeste. Deixamos a ilha Doomer por bombordo e a grande ilha Ambers por estibordo. 
 
 
 Com um dia espetacular, com poucas nuvens e temperatura agradável, avistamos um dos mais belos pontos da península antártica, o canal Lemaire. Antes, porém, passamos ao lado do majestoso Cape Renard, um maciço de pedra vertical com aproximadamente 700 metros saindo do nível do mar.
 
Passando pelo canal Lemaire, tem-se a ilha Booth a estibordo e a baía Girard a bombordo, onde tivemos o privilégio de observar uma baleia jubarte se fartando de “krill” (espécie de pequeno camarão). Contornamos a ilha Booth para ancorarmos em Port Charcot, do outro lado da ilha. Contudo, tivemos que mudar o local da ancoragem durante a madrugada devido à ameaça de abalroamento por icebergs que se aproximavam do barco impelidos por um forte vento sul.
Caso não tivéssemos mudado de lugar, os pedaços de gelo poderiam ter nos deixado presos na baía por tempo indeterminado. O nome Port Charcot foi dado por ter sido um dos locais de passagem do explorador polar francês Jean Baptiste Charcot. Quando deixamos Port Charcot, por conta da aproximação dos icebergs, ancoramos na baía da ilha Hoovgard (S 65º 06,42’ W 064º 04, 54’).
Durante o verão antártico, o sol se põe por poucas horas, impedindo que haja escuridão. Desta forma, dormíamos com uma peça de roupa cobrindo o rosto a fim de simularmos uma noite nos trópicos.
Na manhã do dia 10 de janeiro, exploramos as imediações da ilha Hoovgard, chegando ao cume após uma pequena caminhada. Mesmo com a dificuldade de realizar atividades normais na neve, tentava sempre alternar pequenas corridas com os snowshoes e algumas remadas de caiaque, embora tenha sido difícil manter a forma. Senti falta de minha bike!
 

Na tarde do dia 11 de janeiro, ainda na ilha Hoovgard, saí para dar a volta em um labirinto de ilhotas de rochas com o caiaque inflável. No total foram seis quilômetros (que pareceram 10 km) que deixaram minhas mãos e pés duros e gelados. No dia seguinte, saímos em direção às ilhas Petermann, mais ao sul, para aportarmos na base ucraniana Verdnasky (localizada nas ilhas Argentines – S 65º 14,85’ W 064º 15,098’) ao final do dia.
 


Os ucranianos desta base têm o costume de receber (com uma boa vodka!) a tripulação dos veleiros que ancoram nas proximidades da base. E em nossa passagem por lá, não foi diferente. Vários drinks e uma confusa comunicação, devido ao péssimo inglês dos ucranianos, nos arrancaram boas risadas.
(em breve continuação...)
  
  

Agradecimentos:
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Super bike 101