Caiaque de São Francisco do Sul a Florianópolis
Integrantes: Alexandre Manzan, Sidnei Assis e Gustavo
Damien
Distância: 200 kms
Há alguns anos conheci o argentino Gustavo Damien (dono
da M&G kayaks) no evento Multisport Brasil, em Florianópolis. Na ocasião,
trocamos informações sobre remadas e barcos e deixamos acertada uma viagem de
caiaque pelo litoral de Santa Catarina. Protelada por algum tempo, acabamos
tirando a expedição do papel este ano. Havia planejado um percurso de
aproximadamente 200 quilômetros saindo de São Francisco do Sul e chegando a
Florianópolis.
Como passaria por Curitiba para visitar meu velho amigo Alexandre Ferreira,
convidei o Assis (com quem eu já havia realizado outras viagens) para a
empreitada. Ele não me decepcionou e
seguimos juntos ao encontro do argentino.
Após os acertos de última hora, às 14h00m do dia 20 de
outubro, zarpamos do belo centro histórico de São Francisco do Sul sem saber o
que encontraríamos no decorrer da semana, tendo em vista a condição climática
complicada registrada nas últimas semanas.
Com uma tarde fechada e maré-contra até a entrada da
baia, o mar se apresentou escrespado e grande. Contornamos a ponta de pedra com
certa apreensão, devido ao mar salpicado. Ao final do dia, aportamos no final
da Praia da Enseada, local em que a água estava turva e cheia de detritos devido
às chuvas dos últimos dias.
Na saída do segundo dia, em direção à Barra do Sul, o
mar estava grande. Até passarmos por completo a ponta de pedra da Praia da
Enseada, remamos por um mar bastante escrespado e mexido, mantendo-se assim até
o final da zona de costões e início das praias. Com 15km de remada, o tempo
fechou ainda mais e as condições pioraram. Com alguns raios ao largo, quase
paramos no meio do percurso, o que seria complicado de realizar com a considerável
arrebentação do local. Insistimos até a praia do Ervino, onde uma tormenta nos
pegou em meio à remada. Analisamos se havia raio, e arriscamos por um trecho
de 3 km. Por sorte, a chuva nos cruzou e o tempo melhorou logo em seguida
(assim como o mar).
Às 14:40hs, chegamos em Barra do Sul. Com a direção
das ondas coincidindo com a entrada da barra do rio, ficava bem complicado aportar
por ali. Diante disso, fomos para o lado protegido do mole e aterramos quase
ilesos em Barra do Sul.
O dia terminou feio e com muitos raios, fato que nos
obrigou a inspecionar o decorrer da noite a fim de analisarmos e planejarmos o
dia seguinte. Durante a noite, testemunhamos uma bela tempestade com fortes
ventos e raios ensurdecedores.
O dia amanheceu com uma chuva incessante e o mar
virado. Como não teríamos ponto de apoio neste trecho, decidimos fazer um
deslocamento de carro até o ponto de onde partiríamos no dia seguinte
(Piçarras). Acreditamos ter sido uma boa decisão!
No quarto dia de viagem, com um tempo encoberto e bom
para remar, saímos com mar razoável e vento de sul/sudeste moderado até a
chegada à praia de Gravatá.
Ao passarmos pela foz do rio Itajaí, a remada ficou
nitidamente mais pesada (devido à água doce) e lenta por conta da forte correnteza
do rio que estava transbordando na planície de seu vale. Acabamos derivando muito
para longe da costa, o que nos custou um belo esforço para retomarmos à rota
planejada. A fim de não perdermos tempo, comemos dentro dos caiaques e, com
mais 1 hora de remada ( e com vento contra, sempre!), chegamos “semi-mortos” em
Camboriú.
Anteriormente à viagem, havia combinado com um velho
amigo de Balneário Camboriú de nos encontrar quando eu aportasse por lá.
Aproveitei o final de meu dia para visitar sua loja (Riders Bike Shop &
Café) e tomar uma refrescante cerveja. Colocando a conversa em dia, eu e Juliano
resgatamos bons momentos do triathlon, inclusive belas provas que disputei em
Camboriú. Em meio à conversa, Juliano comentou sobre nossa viagem com um
remador local. Sabendo de nossa empreitada, Revo questionou se poderia remar
conosco o trecho até Bombinhas, o que de pronto aceitamos.
No dia seguinte, pela primeira vez em nossa viagem,
vimos o astro rei. Com o belo dia anunciando-se, saímos animados em direção a
Bombinhas, onde meu amigo Giliardi Pinheiro (companheiro da equipe Kailash Team
Neptunia) nos aguardava ansioso.
Logo no início da remada, sentimos que o dia não seria
fácil; o temível vento sul (contra) mostrava todo seu potencial.
Nas pontas das enseadas, o mar se tornava um rebuliço
só. Difícil progressão e malabarismo para se equilibrar no barquinho.
Tínhamos que realizar uma travessia por mar aberto de
aproximadamente 10 quilômetros, o que, por si só, já seria tenso, mas o vento
sul aumentou sua força e tornou a travessia um martírio. Não tínhamos ponto de
parada e descansar dentro dos caiaques significava perder preciosos metros
conquistados, pois o vento nos empurrava para a direção oposta.
Após tortuosas
duas horas, chegamos a uma península que nos protegia do vento, onde comemos e
descansamos um pouco antes de remarmos os últimos quilômetros até Bombinhas,
local em que nos despedimos de Revo.
Em nosso sexto dia de remada, saímos de Bombinhas com
um leve vento Sul, não nos permitindo planejar totalmente o destino do dia.
Contudo, o dia foi evoluindo e o tempo firmou. O céu estava encoberto por uma
camada de cirrus e havia uma leve corrente e vento de sul. Seguimos em direção à
Governador Celso Ramos, onde decidiríamos se dormiríamos por lá.
Uma baleia
passou a algumas centenas de metros de minha proa, próximo à praia de Quatro Ilhas.
Vi seu borrifar (da respiração) e uma pequena parte de seu dorso. Às 14:20h,
chegamos à Gov. Celso Ramos, comemos alguns salgados, tomei uma coca e pedi ao
dono do bar que consultasse o “WindGuru” (previsão de ondas e ventos).
Sabendo que o vento não aumentaria sua força,
resolvemos seguir em frente e realizar nossa última travessia da viagem: um
braço de mar de nove quilômetros de extensão, o qual separa o continente de
Florianópolis. Animados com o fato de finalizarmos a viagem naquela tarde,
esquecemos por instantes o cansaço e remamos determinados em direção à praia de
Jurerê Internacional, nosso destino final da viagem.
Já com o caiaque no carro e em direção ao centro-oeste
do país (onde a condição climática estava totalmente diferente), lembrei-me da
capa do Diário Catarinense do dia 23 de outubro: a imagem de casas e ruas
alagadas pelo estado me comoveu. Vendo as dificuldades enfrentadas por aquelas
pessoas, assimilava ainda mais uma regras mais importantes dos praticantes de
esportes ao ar livre:
”Manda a natureza que pode e obedece quem não quer
morrer”
Voltando para casa, passei pelo triângulo mineiro a
fim de visitar minha avó. Em Honorópolis, onde ela mora, relembrei minha
infância em alguns locais onde passava minhas férias: a antiga casa da fazenda,
o curral quase em ruínas, a represa do tio Nêgo, entre outros.
Na fazenda
reencontrei o Neto, que, com seus 79 anos - 40 dos quais trabalhando para meu
avô – ainda tem fôlego de peão novo!
Nesta mesma fazenda, meu avô Joaquim (analfabeto),
trabalhando muito em uma pequena propriedade rural, teve êxito em criar e
formar seus seis filhos. Na propriedade do tio Nêgo, fui ver a represa em que
dei minhas primeiras braçadas.
Tarefa não muito fácil devido às incansáveis
investidas do ganso “Xiquinho” por conta de ciúmes do tio Nêgo! Ainda me
recuperando da correria do “Xiquinho”, tio Nêgo me contou que havia um porco em
sua fazenda que encontrou sua cara metade na forma de um latão de leite. Fiquei
imaginando a cena da negociação de tio Nêgo com o porco “Tadeu” a fim de recuperar
o latão de leite para que o mesmo fosse utilizado para seu verdadeiro fim! Coisas
do interior...
Abraço.
Manza
Dia 1: 20-10-2015 São Francisco do Sul – Praia da
Enseada
Dist: 23,5 km
Tempo: 3h07’
Média: 7,4 km/h
Dist: 32,8 km
Tempo: 4h21’
Média: 7,5 km/h
Dia 3: 22-10-2015 Barra do Sul - Piçarras
(deslocamento de carro)
Dist: 35,3 km
Tempo: 5h21’
Média: 6,6 km/h
Dist: 27 km
Tempo: 4h35’
Média: 5,9 km/h
Dia 6: 25-10-2015 Bombinhas – Floripa
Dist: 40 km
Tempo: 5h50’
Média: 7 km/h
Agradecimentos:
Kailash Team Neptunia
D’stak academia
Exceed
Bike Brothers
Juliano Salvadori
Alexandre Ferreira e família
Sidnei Assis
Giliardi Pinheiro