terça-feira, 28 de março de 2017

Logical Song


Na última quinta-feira, 23 de março, se apresentou em Brasília o vocalista do Supertramp (Roger Hodgson). Apesar de eu não ser da mesma geração que a banda, escutei bastante suas músicas em uma época muito significativa de minha vida. 

Devido ao "cômodo" cansaço da rotina, não fiz muito esforço para ir ao show. Contudo, dias antes, meu amigo Geleia (com quem estudei na referida época) me ligou dizendo que havia comprado os ingressos. Não tive como recusar. Fomos. Apesar da acústica ter deixado a desejar, curtimos muito o "showsaço" do coroa! Em várias músicas, me peguei "vivendo" novamente ótimos momentos dos anos 80 e 90 (inarráveis...). 
Coincidentemente, há um tempo, voltei a conviver com muitos amigos que conheci nesses anos.
Após o show, já em casa, abri o baú e marejei os olhos ao ver algumas fotos e lincá-las à época. Entre tantas, consegui escanear as que seguem nesse post.

Abaixo, segue a letra da música que escutei indo, voltando ou fazendo alguma coisa muito boa naquela época...
Hoje, aos 42 anos, entendo o sentido da letra e me identifico completamente.

Valeu Geleia!
Valeu Supertramp!   




Logical Song - Supertramp

When I was young
It seemed that life was so wonderful
A miracle
Oh, it was beautiful, magical
And all the birds in the trees
Well they'd be singing so happily
Oh, joyfully
Oh, playfully, watching me
But then they sent me away
To teach me how to be sensible
Logical
Oh responsible, practical
And they showed me a world
Where I could be so dependable
Oh, clinical
Oh, intellectual, cynical
There are times when all the world's asleep
The questions run too deep
For such a simple man
Won't you, please, please, tell me what we've learned?
I know it sounds absurd
But, please, tell me who I am
Now watch what you say
Or they'll be calling you a radical
A liberal
Oh fanatical, criminal
Oh, won't you sign up your name?
We'd like to feel you're acceptable
Respectable
Oh presentable, a vegetable
At night when all the world's asleep
The questions run so deep
For such a simple man
Won't you please (won't you tell me?)
Please tell me what we've learned? (can you hear me?)
I know it sounds absurd
But please tell me who I am
Who I am
Who I am
Who I am
Composição: Rick Davies / Roger Hodgson

quinta-feira, 2 de março de 2017

"A Arte da Virilidade"

Forçando-me a sair de casa e "equilibrar" minha rotina, chamei o amigo Guilherme Gonçalves para fazer um "tour" de bike pelo Goiás. A ideia era repetir o que eu e outros parceiros costumávamos fazer em antigos carnavais. 
A fim de evitar o tumulto e risco desta data comemorativa, saímos uma semana antes. Largamos de Luziânia/GO, cidade do Guilherme, e seguimos para Cristalina iniciando uma volta de 480 quilômetros pelo interior do estado.

Finalizado o primeiro trecho da viagem, já instalado em uma discreta acomodação da cidade dos cristais, eu compartilhava com amigos e familiares algumas imagens e percepções do dia. Para tanto, usava meu pequeno aparelho de conexão com o mundo (virtual). Sim, meu celular. 
Após ler para Guilherme uma boa piada recebida por um dos inúmeros grupos de que faço parte, ainda por meio de meu celular, dei continuidade à leitura de um artigo que havia recebido de meu amigo Luis Hashimura sobre as consequências dos luxos e facilidades da era moderna na vida dos homens.
Em "The Art of Manliness", Brett and Kate Mckay (com citações retiradas do livro No Place for Grace, de T.J. Jackson Lears) descrevem as incríveis alterações ocorridas na personalidade dos homens após terem seus trabalhos braçais e diversões físicas trocados pela tecnologia.
Iniciando com uma estarrecedora estatística sobre o aumento de suicídios e casos de depressão nos EUA, os autores são extremamente eficientes em "lincar" e demonstrar algumas prováveis causas dessas mazelas.
Segundo o artigo, a setorização do trabalho, iniciado na Revolução Industrial, limitou muito a habilidade do homem. Paralelamente a este fenômeno, os bens e confortos gerados pela galopante evolução tecnológica transformaram, por completo, nossos hábitos.
Conforme lido no artigo, o que se pode avaliar sobre a evolução tecnológica é que, em tese, o que seria para aprimorar a vida do homem tem se mostrado um "tiro no próprio pé". 
Não há duvida de como evoluímos e o quanto essa evolução nos facilitou a vida. O problema, em meu entendimento, foi a dose e o espectro que esses "confortos" atingiram. Não há nada que façamos sem que utilizemos algum tipo de aparato tecnológico, o que diminui sobremaneira o essencial exercício de nossos sentidos e intuições.
       
"The man who gives himself up entirely to the service of his appetites, makes them grow and multiply so well that they became stronger than he"



Ao final do segundo dia de viagem, felizes com o desempenho de nossos quadríceps, procuramos uma lanchonete para repor parte das calorias perdidas. Interessante ressaltar que tal qual a fome que eu estava era minha urgência em saber a senha do maldito Wi-Fi! 
Necessidades supridas, achamos um pequeno hotel para o repouso do dia (com internet, é claro!).
Antes de dormir, em outra parte do artigo, li que, já no século 19, houvera um movimento contra a "overcivilization". Teoricamente, um movimento que visava frear as benesses do progresso, tendo como convincente argumento um sintoma da evolução tecnológica já sentido naquela época: a praga da neurastenia. 

Neurastenia
substantivo feminino
1. psicop perda geral do interesse, estado de inatividade ou fadiga extrema que atinge tanto a área física quanto a intelectual, associado esp. a quadros hipocondríacos e histéricos.

Esse movimento tinha um nome - the strenous life - e um protagonista: Theodore Roosevelt. O que Roosevelt pregava para combater a praga da neurastenia era a real necessidade de uma vida mais vigorosa. 
O que analiso no atual cenário é que, tendo como base o princípio do menor esforço, o homem assimilou os prazeres da vida moderna e, gradativamente, se enclausurou, deixando em segundo plano a vida ao ar livre.  
Verdade seja dita, ficar em casa debaixo da coberta assistindo às infinitas séries do Netflix e bisbilhotando a vida alheia nas redes sociais é, em parte, prazeroso. Porém, render-se a esse costume e anular-se de uma vida vigorosa, é, simplesmente, lamentável.
Seguindo nossa infusão pelo Goiás, saímos de Campo alegre em direção à Ipameri, onde tomaríamos o rumo norte. Havíamos pensado que a chuva fosse nos acompanhar durante a viagem, mas o sol fritou nosso caminho o tempo todo.

Chegando em Orizona, local onde dormiríamos no terceiro dia, barganhamos o último hotel da viagem sem muito nos preocupar com o Wi-Fi. Curiosamente, com muitos quilômetros rodados e belíssimas paisagens apreciadas, havíamos mudado consideravelmente nossos valores sensoriais. A satisfação passava a vir de uma realidade não-virtual. Sem perceber, deixava de lado o "zap" para aproveitar integralmente o momento. O meu celular retornava a sua função básica: realizar chamadas. 
Comentei, então, com o Guilherme sobre a satisfação que sentia com tão simples atividade.
É realmente impressionante o que uma bicicleta pode nos proporcionar.
Para finalizar nossa viagem, tínhamos 150 quilômetros com vento contra até Luziânia. Pensando no movimento que Roosevelt apoiara no século 19 (a call for a strenous age), finalizei o terceiro pão com manteiga, tomei uma xícara de café, amarrei meus chinelos velhos em minha bike e, juntamente com Guilherme, sumi motivado e confiante pela GO-010.  
Extenuados e mais felizes que quatro dias antes, chegamos no fim do dia à casa do Guilherme.
Retornando a Brasília, ao volante de meu carro, considerava a viagem que acabava de fazer. Qual a razão em sair pedalando centenas de quilômetros por quatro dias, sem apoio, portando somente uma troca de roupa e um par de chinelos?  
Lembrei-me, então, de um trecho no fim do artigo:

"...in a world that lacks inherent tests and challenges, you've got to create them on your own."
Por fim, assumo que continuarei a utilizar (com parcimônia) alguns confortos da modernidade, como, por exemplo, meu celular. Contudo, se um dia tiver que abandoná-lo, o farei sem problemas. Já não, posso dizer o mesmo de minha bicicleta!

"Keep close to Nature's heart...and break clear away, once in a while, and climb a mountain or spend a week in the woods. Wash your spirit clean."
John Muir, 1915



Tour do Goiás 2017
1º dia: Luziânia - Cristalina                         80km
2º dia: Cristalina - Campo Alegre de Goiás   110km
3º dia: Campo Alegre de Goiás - Orizona     145km
4º dia: Orizona - Luziânia                           150km

The Art of Manliness
Brett and Kate Mckay

http://www.artofmanliness.com/2016/12/21/call-new-strenuous-age/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+TheArtOfManliness+%28The+Art+of+Manliness%29&mc_cid=4f80938eb2&mc_eid=7943d91ae4

Agradecimentos:


Bike Brothers